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Mais um doce popular que me traz muitas recordações desde a infância. A começar pelo nome. Claro que quando começo a crescer entendo o nome, pois estes bolos “dormem” antes de ser cozinhados. Sempre que se faziam folares, os dormidos, apareciam na mesa, pois fazendo massa para folares prolongava-se, e faziam-se dormidos. Em algumas casas, quando estes dormidos eram feitos pelo Natal, eram-lhe adicionadas uvas passas caseiras das que se separaram para chegar até à noite de Passagem de Ano. Depois não havia merenda, ou festinha caseira, onde eram presença obrigatória. Pelo menos em minha casa. Estes dormidos eram para nós os melhores “pãezinhos doces”. Mesmo quando começavam a ficar secos, ligeiramente aquecidos eram guarnecidos com marmelada fina ou geleia de marmelo.

Com o nome de “dormidos” também nos aparecem uns bolos da segada (ceifa) na região de Mogadouro mas eram uma espécie de bolinhos doces fritos com a forma de “pastéis” de bacalhau. Bolos dormidos também aparecem na região do Douro. Isabel Gomes Mota, quando apresenta a receita no seu livro “Trás-os-Montes à Mesa” termina com a seguinte sugestão: “Quando endurecem, cortam-se às fatias e fazem-se umas torradas deliciosas”. Também Manuel Luis Goucha publicou a receita no seu livro “Coisas de Açúcar”.

Mas vamos, então, perceber como se fazem. Comecemos pelos ingredientes: precisamos de meio quilo de farinha, seis ovos inteiros, sessenta e cinco gramas de manteiga, o mesmo peso de açúcar, vinte gramas de fermento padeiro, meio cálice de aguardente e ovo para pincelar e açúcar para finalizar.

Coloca-se a farinha numa tigela de amassar. Juntam-se todos os ingredientes e amassam-se bem com as mãos até obter uma massa homogénea. Tapa-se a tigela e deixa-se a repousar durante cerca de duas horas. Sobre um tecido fino fazem-se bolas com a massa, separadas puxando pedaços do tecido de forma que ficassem bem isoladas. Cobrem-se com um cobertor e ficam em repouso durante toda a noite. No dia seguinte, em tabuleiro untado e polvilhado com farinha, colocam-se as bolas. Pincelam-se com ovo e coloca-se um pouco de açúcar. Cozem em forno bem quente. O tecido fino para separar as bolas eram muitas vezes lençóis fora de uso. Pelo que nós brincávamos dizendo que estes bolos até dormiam com lençóis e cobertor.

Lembro-me bem de despertar cedo, e ir correr para a cozinha espreitar o tabuleiro que continha os bolos que tinham ficado a dormir. Depois eram esperar que cozessem para devorar um ainda meio quente.

Bom Apetite!

O bolos das imagens foram confecionados pela minha irmã Lina.

© Virgílio Nogueiro Gomes

Fotos © Adriana Freire

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