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Estes bolinhos entram ainda no meu roteiro da doçaria popular. Apenas se faziam a partir do dia oito de dezembro e eram obrigatórios nas refeições do Natal e Ano Novo. Estes bolinhos seriam confecionados pela minha Avó paterna, que tendo falecido cedo, o meu Pai apenas ficou com a memória deles. Mais tarde, depois de casar, a minha Mãe terá encontrado estes bolinhos em casa da família de meu Pai e a minha tia Delmina ter-lhe-á passado a receita, e que agora tentarei reproduzir. Já eu crescido, e lembro-me de os encontrar, sempre, em período Natalino em várias casas. Por vezes acontecia que nos dava apetite destes bolinhos, e minha Mãe, sempre bem-disposta, lá nos fazia os bolinhos mesmo fora da época natalícia. Certo é que estes bolinhos se associavam sempre ao tempo frio.

Estes bolinhos também eram apelidados de “sete no papo”pois dizia-se que só ao sétimo ingerido se encontrava o verdadeiro gosto! Explicações gulosas e glutonas.

Vamos então à sua confeção. Precisamos de uma chávena de chá de arroz carolino e duas vezes e meia a mesma chávena com água. Coloca-se arroz a cozer na água e adiciona-se um pau de canela e casca de uma laranja ou limão. Quando o arroz estiver cozido retira-se do lume e deixa-se arrefecer. Retira-se-lhe a casca de laranja e o pau de canela. Junta-se ao arroz dois ovos inteiros, uma chávena de chá de açúcar e mexe-se tudo muito bem tendo o cuidado de não pisar muito o arroz. Adiciona-se um pouco de farinha, “a que necessitar” até a massa do arroz ter alguma consistência, e ainda uma colher de chá de fermento em pó. Aqui está a dificuldade que assusta quem não tenta fazer a receita. Mãos na massa e logo descobrirá quanta farinha é necessária. Depois de tudo bem envolvido, leva-se uma frigideira ao lume com óleo ou azeite. Quando o óleo estiver bem quente, e com a ajuda de duas colheres de sobremesa, moldam-se os bolinhos (como pasteis de bacalhau, ou quenelles para os profissionais), que se fritam. Depois de fritos, uma ligeira passagem sobre papel absorvente, e colocam-se numa travessa funda. Cobrem-se com uma calda de açúcar que vou descrever.

Para a calda é necessário açúcar, Vinho do Porto ou Vinho Fino, água, casca de laranja, e pau de canela. Vai ao lume o açúcar com um pouco de água até diluir a totalidade do açúcar. Colocam-se os restantes ingredientes, deixa-se fervilhar, mexe-se com cuidado até sentir que está a engrossar. Retira-se do lume e depois deita-se sobre os bolinhos. Estes sabiam melhor depois de estarem cobertos de molho durante dois ou três dias.

Estes bolinhos não serviam de sobremesa. Eram uma gulodice pós sobremesa ou petisco doce entre as refeições. Em minha casa acompanhavam com café ou com chá, os mais atrevidos acompanhavam com Vinho do Porto.

© Virgílio Nogueiro Gomes

Nov 2011

Os bolinhos da foto foram confecionados pela minha irmã Lina.

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