(Casa do Pão-de-ló)
De volta aos doces! E a pensar na minha amiga Alexandra Prado Coelho, por quem tenho estima e admiração. Já fiz anteriormente uma descrição dos diferentes pães-de-ló que ainda se fazem em Portugal. Recebi algumas mensagens lembrando-me que em determinadas localidades também se fazem pães-de-ló mas, depois de verificar bem, apenas muda o nome da localidade mas a receita é idêntica a alguma das apresentadas.
(Mosteiro de Cós) – © Foto Dias dos Reis
Desta vez vou escrever sobre o Pão-de-ló de Alfeizerão, e sobre o qual já ouvi algumas informações menos corretas. Este pão-de-ló terá nascido em Cós, no Mosteiro Cisterciense de Santa Maria de Cós, e não em Alcobaça como alguns pretendem. Até por razões históricas e de disciplina monástica tal não parece plausível, pois a doçaria conventual desenvolveu-se em ambientes femininos e aos homens por interdito trabalhar o açúcar durante muitos anos, conhecendo-se a primeira proibição desde D. João II que reinou entre 1481 e 1495. O Mosteiro de Cós esteve durante muito tempo abandonado e hoje deve visitar-se a sua Igreja. Este mosteiro, cuja fundação remonta quase à fundação da nacionalidade, viveu um pouco à sombra do grande Mosteiro de Alcobaça e seriam as monjas de Cós que abasteceriam Alcobaça. Para os mais interessados recomendo a leitura do livro “Intimidade e Encanto”, da autoria de Cristina Maria André de Pina e Sousa e Saul António Gomes, editado por Edições Magno, 1998, onde encontra toda a história do Mosteiro de Santa Maria de Cós.
(A grande novidade tecnológica com 40 anos)
Não tem sido fácil identificar a data de nascimento deste pão-de-ló. Parece ter, de facto, nascido no Mosteiro de Cós, não se sabendo se era confecionado como hoje o conhecemos. Depois da extinção das ordens religiosas em 1834, muito do receituário, ou melhor, da prática de fazer doces, saiu dos conventos e muitas vezes deu origem à instalação de negócios próprios. O Mosteiro de Cós encerrou as suas portas, após inventário, no mês de Julho desse ano. As monjas deslocar-se-iam para o Mosteiro de Odivelas que tinha formas de sustento, mas outras terão recebido assistência em Alfeizerão. Uma forma de agradecer o abrigo seria a confeção de doces a que estavam habituadas no Mosteiro, e algumas senhoras terão aprendido a confecionar o receituário que não viria escrito mas transmitido por via oral, e pela observação da confeção.
(As formas em cobre, barradas com manteiga)
Ora o pão-de-ló como agora o conhecemos, ou dele temos notícia, vem dos finais do século XIX com o Mosteiro definitivamente fechado. O Rei D. Carlos (1863-1908) visitava com alguma frequência o seu amigo fidalgo Vitorino Froes “passando temporadas entre a quinta de Alfeizerão e uma casa em S. Martinho do Porto”. É pois numa dessas ocasiões que, com uma retirada antecipada do forno, ou por falta de prática, que o pão-de-ló ficou mal cozido. Eis senão quando se prova e a resposta foi de excelente aprovação. O próprio Rei elogiou tanto aquela preparação que, a partir desse momento, parece que as poucas que saberiam fazer a receita, começaram a retirá-los antecipadamente do forno pela satisfação que davam. E assim se instala uma tradição que perdura. E o pão-de-ló que foi à mesa do Rei, e aos leilões da igreja, e passou a tradição local.
(Sílvia preenchendo as formas com o creme)
Entretanto veio, do Alentejo, para Alfeizerão o padre João Matos Vieira acompanhado por sua irmã Adília. Foram eles que se estabeleceram, em 1925, com a Casa do Pão-de-ló de Alfeizerão. Até esta data o fabrico era um negócio doméstico aos fins de semana, e para as festas. Agora está um negócio aberto ao público, na beira da estrada, e com o negócio de posto de gasolina associado. Era uma paragem obrigatória. Mais, teve honras de o largo em que se encontra ser atualmente Largo do Pão-de-ló! Entretanto as sobrinhas do Padre, Ema e Elisa, continuaram e ampliaram o negócio continuando, no entanto, a fazer o pão-de-ló de forma artesanal com tinham aprendido.
(Aguardando entrada no forno)
Tive a sorte de poder assistir à preparação e confeção desta iguaria. A forma impressionante como a pasteleira Sílvia manuseia os produtos, ovos, açúcar e farinha, o modo como preenche a formas, o testar o cozimento por apalpação e a colocação dos bolos nas respetivas caixas é de ficar boquiaberto. Sobretudo esta última operação.
(Acabados de sair do forno)
(Impossível fotografar a desenforma, pela velocidade)
A Casa do Pão-de-ló é uma pastelaria onde poderá acompanhar os doces por bebidas e ainda comprar produtos para levar. Habitualmente tem também: Trouxas-de-ovos, Palitos de manteiga, Areias, Areias de canalha, Bolachas de gengibre, Monjas, Monjas de chocolate e Suspiros.
(Já dentro da caixa, para baixar)
(Caixas prontas para venda)
(Curiosos azulejos na entrada)
Fui recebido e acompanhado nesta visita pela atual proprietária Helena Monteiro de Castro.
Bom Apetite!
© Virgílio Nogueiro Gomes
Casa do Pão-de-ló de Alfeizerão
Largo do Pão de Ló
2640-138 Alfeizerão
Telef 262 999 558
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