Pasteis de Nata, em Alinanda
Capa do livro
Alinanda é o pseudónimo de Aurora Fernandes Jardim Aranha e Alice David Moutinho que usaram para a publicação do livro Arte de Bem Comer, publicado por Tip. E Enc. Domingos d’Oliveira no Porto, em 1929. Não se conhece uma segunda edição. É um livro extenso, 578 páginas, com índice bem organizado, e apenas algumas receitas tem indicação da sua origem, região ou nacionalidade, e é dirigido “às boas donas de casa para quem o maior prazer consiste em vêr feliz toda a sua família”. Termina o texto introdutório: «A mulher que quiser ser amada pelo marido deve tornar-se indispensável ao seu paladar», outros tempos! Na revista ILUSTRAÇÃO de 16 de Fevereiro de 1929 foi publicado o seguinte: “No salão de «Voga», exporá ALINANDA o livro “Arte de Bem Comer”, uma maravilha num «stand» maravilhoso de pitoresco». O livro contém fotos a preto e branco, desenhos para melhor entendimento das receitas e umas extraordinárias ilustrações, ao que parece serem xilo ou lino gravuras.
O livro apresenta um grande conjunto de receitas e regras para organizar, em casa, a cozinha e suas dependências. Mas, para mim, o mais curioso são as receitas manuscritas das proprietárias do livro. Fiquei sempre fascinado com as receitas manuscritas, e neste caso aparecem três caligrafias diferentes. Tenho comprado alguns cadernos de receitas que aparecem em venda, para poder observar o “estilo” de gosto ou paladar.
Ora, para a crónica de hoje, procurei no livro alguma receita de doces que me apetecesse. Inesperadamente abro o livro e surge-me uma receita manuscrita de “Pasteis de Nata” que li de imediato. Depois fui verificar se o livro também tinha alguma recita de pasteis de nata, mas a busca foi infrutífera. Aproveito para vos apresentar a receita manuscrita, digitalizada:
Como por vezes é difícil de ler, transcrevo a receita:
“Pasteis de Nata
Mistura-se 3 dl de nata com 100g de assúcar e 6 gemas de ovos. Vão ao lume até ferver e retira-se. Forram-se umas forminhas com massa folhada, formas lisas para melhor saírem os pasteis. Dentro de cada forminha já forrada com massa folhada deita-se o creme já feito e cobrem-se indo ao fôrno para que o calor incida sobre a massa que tem necessidade de enfolar. Depois de cozidos polvilham-se com assúcar.”
Quem tiver coragem pode ir para a cozinha e tentar fazer massa folhada. O livro tem uma receita de massa folhada que apresento:
A cozedura dos pastéis de nata exigem um forno muito quente (ideal entre 380º e 340º), e difícil de ter em casa. De qualquer modo o forno deve estar previamente aquecido.
Quanto a pastéis de nata dou sempre o conselho de conhecer as pastelarias do seu bairro que o produzem, provem e escolham o do vosso maior prazer. Eu recomendo sempre que os comam frios pois só asim se pode apreciar a massa folhada, fundamental para o bom pastel de nata. Recordo que dia 6 de outubro de 2025 será a final de mais uma Prova do Melhor Pastel de Nata de Lisboa.
Bom Apetite!
© Virgílio Nogueiro Gomes