A Costa Negra é uma região litoral no Brasil, que vai desde a foz do rio Aracatimirim, Torrões, até à foz do rio Guriú, Jijoca de Jericoacoara. Abrange os municípios de Itarema, Acaraú, Cruz e Jijoca de Jericoacoara, no Ceará, Brasil. Esta designação regional é recente pois apenas em 2009 foi oficializada pela Assembleia Legislativa. As suas praias são famosas mas a produção de camarão é que lhe tem trazido uma maior notoriedade. O seu nome “Costa Negra” foi-lhe atribuído pelo aspeto caraterístico das suas praias que “apresentam grandes extensões de sedimentos cinza escuros submersos” conferindo uma visão única, especialmente na baixa-mar.
(Entrada da Fazenda Cacimbas)
Em Acaraú, a Fazenda Cacimbas é a maior produtora de camarão em cativeiro do Brasil. Acaraú dista cerca de 255 quilómetros de Fortaleza. Produz anualmente, em média, quinze mil toneladas e a maioria da produção é consumida no Brasil, e uma parte ainda é exportada para restaurantes de referência, de Nova Iorque a Tóquio. Os camarões são alimentados de forma natural, sem nenhum tipo de produto químico. Este camarão obteve a certificação oficial de Costa Negra – Denominação de Origem, e considerado o “primeiro Certificado de Denominação de Origem emitido, no mundo, para crustáceo.”
Este ano foi realizado o IV Festival Internacional de Camarão da Costa Negra, dias 29 e 30 de novembro e 1 de dezembro. Para este festival são convidados chefes de cozinha de várias origens que apresentam criações novas, com camarão local. Os pratos são vendidos diretamente ao público, que não intervém na votação, e depois um júri, constituído por doze personalidades e especialistas na matéria, analisam as execuções culinárias e atribuem, em cada um dos três dias do festival, medalhas de ouro, prato e bronze. Este ano, 2012, o Chefe Luciano Ferreira, do Hotel Oásis Atlântico de Fortaleza, foi o único que arrecadou três medalhas com as confeções que apresentarei em baixo. Luciano Ferreira nasceu em Aurora, Ceará, e com 14 anos vai para São Paulo, tendo trabalhado sempre em cozinhas de hotéis. Há oito anos que chefia as cozinhas do Oásis Atlântico. Está muito feliz por ter participado pela primeira vez neste festival, e orgulhoso por poder apresentar confeções com utilização de produtos regionais, e bem identificadores da sua região.
(Chefe Luciano Ferreira ostentando as suas Medalhas)
No primeiro dia apresentou: Cordel Encantado, medalha de Bronze. É constituído por Camarão Costa Negra empanado com castanha de caju, maxixe, queijo Cheddar, risoto de jerimu.
No segundo dia apresentou: Asa Branca (homenagem ao grande músico cearense Luis Gonzaga de quem se celebra o centenário do nascimento), medalha de Prata. É composto por Camarão Costa Negra grelhado no azeite de alecrim com puré de espinafres, mini jerimu e arroz de banana.
Para finalizar a sugestão foi: Beiju do Mar, medalha de Ouro. Prato com Camarão Costa Negra, molho de laranja, beiju de macaxeira, angu de milho verde.
No cardápio de janeiro será já disponibilizada a oferta do prato medalha de Ouro, e os restantes irão também ser brevemente disponibilizados aos clientes que frequentem o restaurante do Oásis Atlântico de Fortaleza. Já escrevi em outras crónicas que cada vez mais me dá segurança, de qualidade gastronómica, a oferta de restaurantes de hotel. Eis mais um exemplo. Parabéns ao Chefe Luciano Ferreira e ao restaurante Atlântico.
Apesar de a língua portuguesa ser falada em todos os continentes, parece-me que deva dar alguma explicação de termos culinários citados na descrição dos pratos:
Maxixe é o fruto de uma planta rasteira e cuja consistência é semelhante à do pepino e tem gosta a menta, e aparenta uma espécie de picos. É produzido no sertão.
Jerimu é uma abóbora de casca verde e com o interior amarelo claro. Também existe a versão miniatura.
Beiju é uma espécie de tapioca grosseira, feita com raiz de macaxeira ralada, temperada com cebola roxa, coentros e cebolinho, manteiga de garrafa e queijo de coalho.
Macaxeira é uma variedade de mandioca.
Angu é um preparado feito a partir de farinha de milho (fuba) e neste caso de milho verde em espiga, coze em vinho branco e depois é triturado. Volta ao lume com leite de coco, queijo de coalho, coentros, cebolinho, alho, sal e reduz até ficar em puré.
Bom Apetite! Com um bom vinho, estes pratos saberão melhor.
© Virgílio Nogueiro Gomes