
Martírio de São Sebastião, pintura de Gregório Lopes (1490-1550)
Continuo a achar fascinantes as visitas a mercados. E quanto maior for o mercado maior o prazer. Os produtos estão normalmente bem apresentados mas a grande maravilha é a variedade de produtos que aí podemos encontrar. Nunca me poderei esquecer dos vários mercados abastecedores que visitei, durante a noite, melhor dizendo, de madrugada antes do nascer do Sol, pelo mundo.
Desta vez o Sol já era nascido e fixei-me nas frutas que tradicionalmente não se produzem em território português, nem surjem nos nossos mercados. Visitei o mercado de S. Sebastião em Fortaleza, na companhia de José Wahnon e Pedro Silva. Não sei das razões que levaram a atribuir o nome do Santo a mercado. São Sebastião foi mártir, condecorado pelo Imperador Diocleciano, seria obrigado a incensar os deuses pagãos, ato que ele recusou. Castigado até à morte amarrado a um poste e atirando-lhe flechas, no dia seguinte foi recolhido por uma cristã, com vida. Recuperado, voltou à presença do imperador voltou a ser sentenciado à morte por espancamento. No dia seguinte, encontrado já morto por uma cristã de nome Luciana, recolheu-o e sepultou-o nas catacumbas que adquiriram o seu nome. São Sebastião é um santo católico muito presente nas religiões afro-brasileiras, habitualmente sincretismo com Oxóssi, e muito popular em todo o Brasil. É celebrado a 20 de Janeiro.
Eis uma reportagem fotográfica das frutas mais surpreendentes e que raramente se encontram em Portugal:

Acerola, com ligeiro sabor ácido, é muito utilizada para fazer sumo, rica em vitamina C e encontra-se com facilidade em polpa de fruta congelada

Atenoia, também da família das anonas, conhecidas por frutas pinha, come-se aos gomos conforme se vai desmanchando a fruta

Cajarana, fruta invulgar que deve ser descascada e depois cortar aos gomos com faca pois contem espinhos no interior

Giló, apesar de uma fruta o maior consumo é preparada refogada e é um acompanhante de salgado

Goiaba, possivelmente fruta que todos conhecem a partir do seu doce “goiabada” e que se assemelha à marmelada

Graviola, usada em grande quantidade para fazer sumo, também se come quando muito madura tendo cuidado com o seu caroço

Jaca, fruta que nasce em árvore e que pode atingir grande dimensão. É utilizada para fazer doce ou compota., e uma das minhas preferidas. É agradável comer diretamente como fruta

Jenipapo, raramente se come cru, é muito utilizado para sumos e em particular para fazer um famoso licor que é emblema do Nordeste

Murici, inesquecível o seu aroma é em sumo que é mais consumido

Pitomba, come-se diretamente tirando a casca e com cuidado ao caroço grande

Sapoti, também basta tirar a casca e pode consumir-se diretamente a seu interior cremoso

Siriguela, com sabor cítrico, pode comer-se diretamente e é muito usado para sumos, tendo atenção ao caroço

Umbucajá, fruta muito agradável e sabor fresco, um pouco ácido, come-se retirando a pele e faz excelentes sumos
Uma sugestão para quem viaja: visitar os principais mercados e descobrir novos sabores. Para a finalização desta crónica tive a ajuda do meu amigo Luis Carlos, maître no Hotel Luzeiros de Fortaleza.
Aqui a designação “fruta da época” é difícil de ajustar pois a grande variedade de frutas, e o facto de algumas frutas produzirem duas vezes por ano, elimina essa necessidade. E é também pena que a gastronomia local não lhes faça maior utilização.
Coma muita fruta para uma alimentação mais saudável.
© Virgílio Nogueiro Gomes
