Calços

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O período da Páscoa acontece, habitualmente, quando a primavera se está a instalar, os primeiros dias completos com Sol, frutas e legumes novos e a Quaresma a terminar. O domingo de Páscoa é também uma primavera! Termina o tempo do jejum e abstinência, cada vez menos praticado, e ao Sol junta-se a alegria de um tempo novo. Por isso, as mesas da Páscoa estão cheias de ovos no receituário especial. Antigamente havia doces que apenas se fariam nesta época. Felizmente hoje em dia é fácil encontrar esse património que não se perdeu. Perdeu-se, possivelmente, a expectativa de os encontrar quando se ia à terra! E em cada festa!

O “calço” é um doce que habitualmente se fazia no período pascal. Também se faz para a festa de Santa Bárbara. Agora encontramos durante todo o ano em Macedo de Cavaleiros, local onde a tradição nos diz que terá nascido, tem vários estabelecimentos que o vende. Para mim é mais um exemplo da imaginação popular de na Páscoa se fazerem pães doces com base numa massa de pão que é enriquecida com ovos e açúcar. Nesta linha de produtos nascidos com o mesmo propósito de celebrar a Páscoa podemos citar os dormidos de Bragança, a “bola doce mirandesa”, a “bola doce” de Carrazeda de Ansiães, o “bolo-podre de Santa Maria” de Valpaços e muitos mais. Se quisermos atravessar o Atlântico também encontramos um pão especial do Ceará para o período da Páscoa que é o “pão de coco”, neste caso enriquecido com um produto local que é o coco.

 

 

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Não se sabe há quantos anos existe esta tradição. Não era hábito registar o que poderemos chamar de doçaria popular. Só tardiamente, finais do século XIX, encontramos relatos nos quais se confirma a presença desta doçaria. As receitas são ainda mais difíceis. Até hoje, muitos pensam que divulgar os segredos poderá significar uma perca! Quais são os ingredientes dos calços? Naturalmente, farinha, ovos, azeite, fermento padeiro, ou massa mãe, e raspa ou sumo de laranja. Era possível também usar partes de mel em vez de açúcar, por vezes já se usa infusão de laranja e já vi introduzir água de cheiro – água de flor de laranjeira. Também se pode juntar água ou leite para garantir a consistência pretendida para a massa. Cada casa, ou cada família, tem no tempero o seu especial segredo. Há ainda quem junte um pouco de banha de porco, ou manteiga, reduzindo a quantidade de azeite. Depois de tudo bem amassado, vem o descanso da massa, para levedar, que poderá ser por toda a noite ou pelo menos sete a oito horas. Depois é tempo de sentir como a massa está macia e moldável. Com a prática retira-se um pouco de massa, não se pesa pois não é para calibrar, e molda-se em forma de ferradura. E é essa forma que lhe dá o nome de calço por lembrar as ferraduras que se colocam aos animais de casco e de carga. Por fim pincela-se com ovo batido e coloca-se açúcar, polvilhando, e canela.

 

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Fatias de calço torradas

O calço que veem nas fotos foi adquirido em Lisboa, Praça da Figueira, durante a feira do Folar Transmontano organizado pela Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa. Atacado gulosamente depois de chegar a casa deixei metade resguardado para comer mais tarde e permitir que começasse a secar. Tinha um objetivo: fazer torradas e cobrir com doce de fruta. Este meu pecado é também cumprido com bolo-rei, pão-de-ló, e outros bolos sem cremes ou coberturas. E sabe tão bem no inverno!!!

 

 

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Fatias de calço torradas e com doce de fruta

Como se de pão se tratasse, continua o hábito de bênção direta da doceira que reza:

S. Vivente te acrescente / S. Mamede te levede / S. João te faça Pão

ou

S. Mamede que levede / Nossa Senhora da Conceição que te faça bom pão / Cresça o pão no forno, haja paz no mundo todo e na casa do dono.

Cada um tem a sua fórmula de pedir o sucesso para os seus calços.

 

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

 

 

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Pigmeu, 3 anos

 

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Em grande festa à mesa celebrou-se o terceiro aniversário do restaurante Pigmeu, e em grande Porcaria conforme prometia o programa. Entenda-se Porcaria um grande elogio que celebrizou o porco, este animal ao qual nos habituámos de a ele tudo comer! Possivelmente os portugueses são o povo que mais canta o porco, e que melhor o confeciona. E a festa fez-se!

No site do restaurante pode ler-se: Da cozinha do Pigmeu, agora liderada pelo Chef João Revés, só saem petiscos de porco e utiliza-se o animal de ponta a ponta desde rabinhos, a túbaros, orelha e bochecha, aqui há de tudo um porco e tudo é delicioso. Assim é. Tudo tem porco. Das entradas ao caldo verde com chouriço, às sandes e saladas e até às sobremesas pode sempre sentir o requinho apetitoso.

Esta refeição foi confecionada com pelo Chef João Revés e com contribuições do Chef André Magalhães (Taberna da Rua das Flores e Taberna Fina) e Chef Leopoldo Calhau (Restaurante Café Garrett). O programa impunha trabalhar porco e queijos. Eis a menu que deu uma grande Porcaria:

 

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Sangue de Porco
Queijo de Castelo Branco Velho DOP (12 meses)

 

 

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Tibornas de Beterraba
Mozzarela di Bufala Campa

 

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Orelhas
Queijo S. Jorge DOP (48 meses)

 

 

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Bochechas, Maçã
Requeijão Serra da Estrela DOP

 

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Bombettas
Pecorino

 

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Puttanesca de Courato
Queijo Picante da Beira Baixa DOP

 

 

 

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Migas e Papada
Ossau Iraty

 

 

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Queijos e Bacon
Queijo de Cabra, Pecorino, Picon de Brejus e Compota de Bacon

 

 

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Porco de Beja

 

 

 

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Pudim Especial de Beja

E foi uma festa muito agradável, bom serviço e regada com vinhos HAJA CORTEZIA de S. João de Lampas, Sintra.

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

Restaurante PIGMEU
Rua 4 de Infantaria, 68
1350-274 Lisboa

TL 218 252 990

 

Carnaval de Fortaleza 2018

 

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O Carnaval de Fortaleza tem um programa muito variado e que decorre em vários locais. Tem ainda um programa de pré Carnaval sobre o qual nunca escrevi e não será desta vez. Para mim o Carnaval é mais tranquilo, e aprecio especialmente os desfiles que decorrem na Avenida Domingos Olímpio nas categorias de Maracatu e Afoxé, composições afro-brasileiras. Estes desfiles têm tudo para serem um grande espetáculo. Talvez lhes falte promoção na área turística, os horários são no período pós praia, e o local é seguro, e cómodo. Este ano pareceu-me melhor ainda na iluminação, no som e na pontualidade.

Hoje vou apenas apresentar as classificações:

MARACATU

1º lugar exe quo

 

 

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Nação Baobab

 

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Vozes da África

 

2º lugar

 

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Rei de Paus

 

 

3º lugar

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Nação Pici

 

Melhor classificação no desfile sábado

 

 

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Az de Ouro

 

 

Melhor AFOXÉ

 

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Filhos de Oyá

 

 

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Para aqueles que não me viram nas redes sociais aqui vai a minha foto com Cristina Holanda, ambos vestidos com chita de Alcobaça e desfilámos no Afoxé de Oxum Odolá

Estão de Parabéns a SECULTFOR, Evaldo Lima e Graça Martins, e a ACECCE, presidida este ano por Raimundo Praxedes.

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

Restaurantes de Fortaleza 2017/18

 

 

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Como vai sendo hábito, passo o período invernal a fugir do frio e a cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, tem sido o meu destino de eleição. Se mesmo em Lisboa, continuo com o vício de comer fora de casa, aqui é praticamente uma necessidade pois não tenho apartamento e continuo com o conforto, e despreocupação, de viver em hotel. Já assisti ao aparecimento e encerramento de muitos restaurantes. Já houve bastantes restaurantes portugueses, e hoje escasseiam.

Já escrevi em outras ocasiões sobre a razões de frequentar determinados restaurantes, e também as razões porque deixo de ser cliente de outros. Prefiro restaurantes despretensiosos, simples e que não tentem copiar, habitualmente mal, a cozinha francesa. Prefiro locais onde se evidencia a qualidade dos produtos confecionados e, especialmente, locais onde o serviço de mesa é agradável e que transmite conforto aos clientes. Várias tenho escrito que a brigada de mesa é, muitas vezes, responsável pela garantia da fidelização da clientela. Continuo com a impressão de pouco investimento nesta área fundamental para o resultado da atividade. Depois há outra questão, para mim delicada porque assumem certas receitas, que têm história e origem bem conhecida, que são adaptadas ao gosto brasileiro. Neste caso incluo a “canja”, “o consomê”, o “carpaccio”, o “rosbife” que deveriam ter no nome acrescentado “à brasileira”. Como já vou conhecendo bem, tenho o cuidado de pedir o carpaccio sem o molho de mostarda, que o rosbife não deverá ser aquecido nem bem passado...

Vejamos os restaurantes, por ordem alfabética, que continuam a ser o meu conforto:

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Carpaccio

D´Abelle Bistrô
Rua António Augusto, 799

Tl (85) 3226 0121

 

 

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Bombom de filet mignon

L´Ô
Av. Pessoa Anta, 217

Tl (85) 3265 2288

 

 

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Costeleta Suína

Santa Grelha

R. Tibúrcio Cavalcante, 790

Tl (85) 3224 0249

 

 

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Robalo assado no forno

Marquês da Varjota

R. Frederico Borges, 426

Tl (85) 3023 5120

Outros restaurantes recomendáveis:

 

 

 

 

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Pernil de carneiro

Chez Onofre

Av. Viena Weyne, 310 (Cambeba)

Tl (85) 3271 1844

 

 

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Peixada Cearense

Colher Restô

R. Ana Bilhar, 1173

Tl (85) 3077 3020

 

 

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Lagostas na grelha

Decanter

Av. Santos Dumont, 2143

Tl (85) 2181 9547

 

 

 

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Esparguete de popunha

Grow Healthy Food

Av. Abolição, 2400

Tl (85) 3242 9561

 

 

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Fideuá de polvo

O Mar Menino

Av. Barão Studart, 1043

Tl (85) 3039 0554

 

 

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Galinha caipira

Maria Chica

R. Thomas Edson, 239 (Parangaba)

Tl (85) 3292 5646

 

 

 

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Tataki de atum

Medit Bistrô

R. Ana Bilhar, 1125

Tl (85) 3879 0554

 

 

 

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Cogumelos na chapa e ovo a baixa temperatura

Quintal

Av. Desembargador Moreira, 533

Tl (85) 3133 5010

Devo citar ainda os buffets, por ordem alfabética, que mais frequento:

- Brasil Tropical, Av. Abolição 2323

- Passeio Público, R. Dr João Moreira (Centro)

- Quintal, Av. Desembargador Moreira 533

- Regina Diógenes, R. República do Líbano/c Desembargador Moreira

Bom Apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

Quarta feira de Cinzas / Dia de São Valentim

 

 

 

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Este título parece estranho, mas deve-se à coincidência de calendário. Consequência dos tempos! Não fosse esta coincidência, possivelmente, não estaria eu a aproveitar-me dela para lembrar as tradições e como elas vão variando, outros chamar-lhe-ão de evolução para a modernidade, ou ainda melhor a forma como se vão diluindo algumas tradições.

Quarta feira de Cinzas tem uma ancestralidade associada à educação religiosa e com princípios de fé. A Quarta feira de Cinzas e a Sexta feira Santa são as duas datas mais importantes da Quaresma que deveriam levar os crentes cumprir jejum e abstinência alimentar. Ainda me lembro de ser prática generalizada, até pela educação recebida, de levar estes preceitos de origem religiosa, e cumprir à risca. Em tempos longínquos seriam os quarenta dias de abstinência da carne. Talvez por isso o termo carne tem qualquer coisa de pecaminoso! * Depois havia as “bulas” que se compravam para quem não queria, ou não podia cumprir com esses preceitos, mas também não quereria ficar em pecado.

 

São Valentim, mártir da Igreja, foi decapitado dia 14 de fevereiro de 270. Imperador Claudio II, para angariar membros para as forças militares, proibiu os casamentos para assim ficar com mais jovens disponíveis. São Valentim, bispo, ajudou os cristãos perseguidos e continuam a celebrar-lhes o casamento. O imperador manda prender o bispo e envia-o para o prefeito de Roma tendo sido enclausurado. A filha do seu carcereiro, cega, pede ao pai para visitar o bispo preso. Estabelecem uma grande aproximação, alguns autores escrevem que se apaixonaram, e no final ela recupera a visão, mas ele é decapitado. Seria o seu primeiro milagre! São Valentim ficou associado a atos de coragem e valentia e também aos aproximados pelo amor, os namorados. Em toda a Europa, passou a celebrar-se o dia de São Valentim como o dia dos Namorados, como se o amor precisasse de um dia para o seu começo. Fico-me reconhecendo a força comercial que este dia trás! Acontece que as propostas comerciais são muito variadas. Aquelas que olhei com mais cuidado e curiosidade são as sugestões de restaurantes. Todas apelando ao desenvolvimento da Gula, ou à luxúria da mesa. Ora, as propostas, que do ponto de vista imaginativo até são, na maioria, gastronomicamente agradáveis, remetem-nos para o consumo da carne! E como farão os namorados cristãos? Iniciam a Quaresma, ou adiam a celebração do amor?

 

 

 

 

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Aqui fica este pequeno texto de final de Carnaval, e com estes incidentes, ou coincidências, se corre o risco de ir perdendo tradições. Claro que há uma questão de fé, que eu não discuto. E agora, como na minha religião, leia-se prática de vida, não há pecados, celebro sempre que me apetece.

A vida é boa, comer bem nunca fez mal a ninguém, e a comida acompanhada com vinho saberá melhor. Celebrem sempre que a vida lhes sorria!

© Virgílio Nogueiro Gomes

* Frase incluída no livro que, Isabel Zibaia Rafael e eu, escrevemos em conjunto, e que dentro de poucas semanas irá aparecer nas livrarias. Fiquem atentos!