Receitas Únicas!

 

 

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Primeira página do livro

Tenho um verdadeiro entusiasmo por livros antigos. E, por vezes, encontro verdadeiras relíquias. Recentemente publiquei uma crónica sobre um livro dos inícios do século XX e no qual, nas páginas em branco, a proprietária do livro escreveu, adicionou, receitas pessoais. Se quiser ler ou reler, pode clicar aqui.

Hoje vou escrever sobre receitas manuscritas nos espaços livres do último livro publicado no século XIX: Cosinha Portugueza ou Arte Culinaria Nacional, publicado em Coimbra na Imprensa Académica em 1899. A sua autoria é da “Collaboração de senhoras”, ficando o livro como propriedade do Instituto de Santo António, sediado na “egreja de Santo Antonio do Olivaes”, e a sua venda revertia para as obras assistenciais daquele instituto. As receitas que irei transcrever são apresentadas pela ordem como aparecem no livro, sem correções, e, portanto, transcrição literal.

 

 

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“Carne afiambrada

A ½ kilo de carne que se passa pela machina, junta-se lhe 3 bolachas de água e sal também passadas pela machina. Depois amassa-se a carne com vinho branco, pimenta, sal, e nos muscada. Estende-se um pano com três nastros nas extremidades, depois deitar lhe a carne batendo se com a mão e juntando-a até ficar bem unida. Tem-se partidas tiras de toucinho e chouriça que se lhe introduzem, calcando bem. Depois enrola-se a carne deforma a não se ver o toucinho nem a chouriça, depois envolve-se nos panos e aperta-se bem com os nastros. Em seguida mette-se na panella do caldo supra antes da hortaliça, onde deve ferver por espaço de meia hora. Tira-se e só no dia seguinte é que se tira o pano. Parte-se às tiras e serve-se.”

 

 

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“Doces de noz

Bate-se ½ kilo de assucar com 4 claras de ovos, por espaço de 1 hora, depois de bem batido junta-se-lhe ½ kilo de nozes que também devem estar pisadas, e deita-se-lhe uma colher de farinha. Depois de tudo bem misturado, deitam-se com uma colher em latas para irem ao forno.”

 

 

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“Coscoreis de massa tenra

Amassa-se ½ arrátel de farinha com uma chávena de leite e 2 onças de manteiga, depois de tudo muito bem amassado, estende-se com um rodo, de forma que fique muito fina. Depois de estendida dobra-se aos bocadinhos cortando-se com uma faca, e fritam-se em bastante azeite.”

Nota: arrátel; +- 459g; onça +- 23,5g

 

 

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“Batatas cosidas à Italiana

Arranja-se primeiro que tudo uma caçarola de porcelana, que se pode comprarem Lisboa ou no Porto e não querendo manda-a vir d’aquellas duas cidades, pode -se tambem comprar cá; Depois manda-se buscar um cantaro de água de S.to André ou à Torna (?), tanto dá, mas deve-se dar a quem a fôr buscar um tostão em níkel. Em se tendo a agua e a caçarola manda-se vir de viveiro 20 reis de sal, mas este deve vir em cambraia especial para não chegar mais salgadito. Deita-se a agua na caçarola, junta-se-lhe sal e põe-se ao lume até ferver a agua. Depois tira-se do lume e em a agua estando fria deitam-se-lhe as batatas e ficam cosidas. Sevem-se com a casca.

Guarda? 18-2-903”, Receita de Cesar Raul

 

 

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“Bolla parda

Batem-se 5 ovos inteiros com 250gr de assucar até engrossar. Depois de batido junta-se lhe a farinha que deve ter o peso de 3 ovos um calice de vinho do Porto, e 20 XX de canella.

 

 

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“Lindins

250g de assucar, 12 gemmas, 1 calice de vinho do Porto, 2 colheres de leite, 1 colher de farinha maisaine e 1 de manteiga. Depois do assucar estar em ponto, junta-se-lhe o vinho e a manteiga, depois de frio junta-se-lhe o leite em seguida os ovos já batidos e misturados com a farinha. As latinhas devem ser untadas com manteiga.”

Como podem ver as receitas nem sempre parecem completas, em especial a das “Batatas cosidas à Italiana”, pois parece que na parte final falta algum detalhe. No entanto, estas receitas deveriam ser de prática familiar e, portanto, de boas confeções e aprovadas pelas famílias. Não há como experimentar, e provar!

© Virgílio Nogueiro Gomes