Todos nós temos no nosso imaginário um conceito mais ou menos poético, ou pelo menos emotivo, sobre esta estação associada ao renascer, à luz, ao enchimento de folhas nas árvores, ao princípio de uma alimentação mais leve, e à cor que todos os produtos ganham com a luminosidade do Sol. Até o espírito parece renascer!
Possivelmente a simpatia que dedicamos à Primavera é pelo seguimento que ela dá ao Inverno, depois de tanto frio e dias pequenos. E pelo Sol que nos disponibiliza mais horas, e as temperaturas aumentam. É na Primavera que os campos se tornam verdes e parece que a Natureza adquire uma vida nova.
Sorte têm os que vivem perto do campo e não estão sujeitos às provocações permanentes da globalização generalizada. Os seus malefícios quase permitem ter todos os produtos durante todo o ano, e não como antigamente que se consumiam à medida que a Natureza os brotava.
Nos legumes aparecem-nos os espargos, as favas, as ervilhas, as melhores cenouras, a couve-flor, os espinafres, o agrião, os rabanetes, a melhor alface, o alho e as azedas.
As frutas mais emblemáticas são as cerejas e os morangos. Antigamente os grandes mercados de calendário regional faziam evidenciar estes produtos. As cerejas em particular, pois a Feira das Cruzes e a das Cantarinhas, a 3 de Maio, faziam as suas primeiras aparições. Quanto aos morangos, e aqueles pequeninos e muito avermelhados, sabia-se que eram doces e com gosto. Hoje em dia é dos produtos que mais aparece nos restaurantes como fruta da época durante todo o ano. Só que muitas vezes trazem logo o açúcar denunciador da sua contra-natura.
Nos peixes encontramos com melhor sabor neste trimestre: o atum, o barbo, a boga, a cavala, a corvina, a garoupa, o safio e a esplendorosa sardinha de animação popular.
Quanto às carnes, deve-se neste período abandonar a caça e é o período de grande elogio do cabrito e do borrego.
© Virgilio Nogueiro Gomes
Publicado no livro “Receitas Gourmet “ para Cerveja Abadia, Super Bock, Unicer