Bolo Rico de Amêndoa e Chila, com receita

 

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Estou de volta ao caderno de receitas de minha Mãe, fixando memórias e lembrando o tempo de aconchego que eram as férias. Mais uma vez escrevo, também, que tenho muito mais confiança nas receitas de cadernos de família do que de muitos livros que se publicam. As receitas de cadernos de família dão-nos as garantias de terem sido confecionadas e aprovadas por algumas gerações. Podem não conter todos os detalhes e não escondem os segredos que, em muitos casos, são apenas os gestos e a forma de envolver os produtos. O carinho com que se empenham na confeção da receita é, quantas vezes, o segredo!

 

 

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Este bolo era preparado para ocasiões especiais. Não era um bolo de todos os dias como o bolo centeio que já apresentei. A importância dos produtos, e a ausência de farinha, dão-lhe um estatuto especial. Poder-se-á dizer que é um bolo que se poderia identificar como pertencendo a uma matriz de bolos conventuais. Mas não é por isso que se pode chamar de conventual. Infelizmente propagam por aí muitos bolos ou doces a que chamam conventuais só porque têm semelhança com algumas receitas oriundas de conventos. Quando tiverem dúvidas, perguntem sempre qual é o convento que deu origem à preparação. Terão muitas surpresas tristes…!

Como prometo, no título, a receita, comecemos pelos ingredientes:

 

 

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500 g de açúcar
500 g de miolo de amêndoa sem pele
500 g de doce de chila
18 gemas

Vejamos a forma de confecionar conforme consta do caderno:

- Bater as gemas com o açúcar até obter um creme fofo e esbranquiçado

- Junte-lhe o miolo de amêndoa passado duas vezes pela máquina de picar, e o doce de chila

- Leve a massa a cozer em forma untada de manteiga e polvilhada de farinha

- Depois de cozido decore o bolo com pedacinhos de doce de chila

 

 

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Agora alguma dicas para o sucesso da receita: misture os ingredientes numa tijela e com colher de pau. Não use a batedeira. Em vez de untar a forma redonda, 25 centímetros de diâmetro e 7 centímetros de altura, com manteiga, forre com papel vegetal. Leve a cozer a forno a 180º durante uma hora. Neste bolo o doce de chila usado é caseiro. Quando fizer a receita tenha cuidado com o doce a usar pois alguns são vendidos com muito líquido e, nesse caso, terá que escorrer o doce. Para que o doce pudesse durar mais tempo, apurava-se o ponto de açúcar, fazia-se um ponto mais alto.

 

 

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Este bolo foi confecionado pela minha irmã Lina, fiel seguidora das tradições alimentares com eram confecionadas na nossa casa. Este é daqueles bolos que também comíamos à mão e que nos garantia a delícia de lamber os dedos com o creme que escorria. Boas lambarices! Em minha casa, os bolos mais ricos eram sempre apresentados sobre rendas. Chila também se pode chamar gila.

 

 

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Este bolo, ótimo para os lanches à antiga, também pode ser uma sobremesa delicada. Insisto em não concordar com a redução da quantidade de açúcar em cada receita. A solução é ensinar a comer uma porção mais pequena. Uma fatia deste bolo, com algumas amoras ou framboesas, é uma sobremesa de estalo! E para quem preferir, e tiver vontade, pode servir gomos de laranja sem pele.

 

 

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Este doce será transmontano? Não sei e apenas me importa que seja bom. Quando bem confecionado é um produto delicado. E faz-me trabalhar a memória e os momentos de saudade de quando vivia em Trás-os-Montes. Estas receitas eram partilhadas pela minha Mãe e minhas Tias. Atividade reservada às mulheres, e que tinham a função de educar os filhos e satisfazer-lhes estas pequenas, mas grandes, vontades!

© Virgílio Nogueiro Gomes