Em Juazeiro do Norte

 

 

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Vista da fachada da Capela de N. Sra. do Perpétuo Socorro

Faltava-me a zona do Cariri para completar o conhecimento do estado do Ceará. Quando me dizem que iria para um local muito quente respondia, sempre, que as minhas estadias no Brasil respondiam perfeitamente ao ato de fugir do frio invernal em Portugal, então o Cariri seria um paraíso.

Hoje em dia o crescimento e notoriedade de Juazeiro do Norte está, de certo, associado à notoriedade de Padre Cícero, ilustre nascido neste local. E eu teria que começar o meu périplo por um local relacionado com padre Cícero e um dos locais de maior acesso dos romeiros que buscam respostas á fé, para eles que Juazeiro fica mais perto da «porta do céu», conforme escreveu Anneth Dumoulin. A minha primeira visita foi à Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro cuja principal romaria acontece em dia de Finados.

 

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Túmulo do Padre Cícero junto ao Altar-mor

Nesta capela encontra-se sepultado desde 21 de julho de 1934 o Padre Cícero. O edifício foi construído na primeira dezena de anos do século XX não sem ter levantado algumas polémicas. Junto à capela existe um cemitério da mesma época. Frente à capela um grande terreiro faz imaginar o aglomerado de romeiros que aí se juntam e no outro extremo existe o Memorial Padre Cícero sobre o qual escreverei em outra crónica.

 

 

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 Fachada do Memorial Padre Cícero

 

 

Um grande passeio, a pé, pelo Centro levou-me ao “Polo de Cultura Mestre Noza” homenageando este mestre da cultura que eu já conhecia através da sua obra publicada por Gilmar de Carvalho.

 

 

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Entrada no Polo de Cultura Mestre Noza

Neste local podemos observar em exposição museológica obras de Noza. Depois um conjunto de lojas de artesanato que trabalham essencialmente a madeira e o barro. Artesão ao vivo executam obras em madeira e é curioso ver o amontoado de madeiras a aguardar ser transformado em obras de arte.

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Mostra de obras de mestre Noza

 

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Madeiras aguardando ser transformadas em obras de arte

 

 

De seguida uma paragem obrigatória para comer doces. A casa “Doces do Madeilton”, na Rua de Santa Luzia nº 545, Centro, é invulgar.

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Placa na entrada dos Doces do Madeilton

A um longo balcão vão-se sentando os frequentadores que, de forma prática e rápida, vão pedindo a principal especialidade da casa que são os doces servidos em taça de vidro e, sempre, acompanhados por um copo, caneco, metálico com “água do pote” bem gelada.

 

 

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Doce de coco

O sortido é variado, abacaxi, gergelim, coco, batata doce, ..., sendo que o mais consumido é o doce de leite. Servem ainda bolos: Mole, Fofo com cobertura de coco e Chocolate. Sem querer saber a receita, que me habituei a não pedir, lá fui sabendo que primeiro se coze a fruta e depois é que se adiciona o açúcar até chegar ao ponto...! São tão bons que apetece lamber a taça onde são servidos.

 

 

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Doce de gergelim e abacaxi

O negócio foi iniciado há 52 anos e as receitas e primeiras confeções seriam de dona Águida Martins, mas rapidamente seguida por seu filho João, dono da loja e do negócio. No balcão, atendendo a clientela, seu cunhado Madeilton deu nome à loja e aos doces pelo contacto direto com os consumidores e porque, como radialista, promoveu os doces que ganharam o seu nome. O negócio continua na família e é, possivelmente, o ponto doceiro com maior identidade em Juazeiro. É muito bom observar os clientes e os seus ares de prazer ao balcão!

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Bolo fofo com cobertura de coco

 

Para final de noite, depois de uma breve refeição, mas preciosa, no Hotel IU À, fomos até ao bairro João Cabral onde assistimos à apresentação de dois Reisados. Estas manifestações culturais de caracter regional acontecem durante as festas natalícias em harmonia com as apresentações, também, de Pastoril e de Guerreiro. Estas tradições, herança do passado, são construções teatrais com música, canto e dança. Em Portugal escasseiam e restam-nos quase apenas o Cantar dos Reis, ou as Janeiras.

 

 

 

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Início do Reisado com Mestre António como figura central

As canções evocam o nascimento de Jesus e celebram a chegada do Reis Magos. Habitualmente estas apresentações têm até cinco “entremeios”, rábulas teatrais faladas com outras brincadeiras onde podem ser animais, policias e ladrões, mamulengos, ou outras soluções de paródia. O movimento de dança, com ritmo por vezes frenético dá um espetáculo de cor variado, som que nos leva a acompanhar a dança e, no fundo, um divertimento com arte. Viva a cultura!

 

 

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As quatro crianças em primeiro plano simbolizam bem que o futuro está assegurado

 

 

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Entrada do mamulengo

É muito agradável ver o envolvimento da comunidade local intervir, e sentir a festa. Mestre António recebeu essa noite outros grupos de comunidades próximas e que, também, mantêm a tradição.

 

© Virgílio Nogueiro Gomes