Pastéis de Feijão de Torres Vedras IGP

 

 

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Foi noticiada a atribuição de IGP aos Pastéis de feijão de Torres Vedras, processo já iniciado há vários anos. Sempre tive muita curiosidade e gosto por estes docinhos, de formato individual e cozidos no forno. No Site da Câmara Municipal de Torres Vedras podemos ler: “Produzido e embalado no concelho de Torres Vedras, o Pastel de Feijão é um doce de consumo individual, de tonalidade dourada e brilho acetinado, com dimensões e formato típico de um pastel ou pequeno bolo.” E ainda:” O recheio, localmente conhecido como “espécie”, tem como ingredientes a amêndoa, o feijão branco, gemas de ovo, açúcar e água. A fina massa envolvente ("forra" ou "capa") tem como constituintes: farinha, gordura vegetal, água e sal.”

Apesar de já conhecer bem estes pastéis dirigi-me recentemente a Torres Vedras para adquirir os pastéis em 3 locais diferentes para, tranquilamente, em casa de distrair e sentir a diferença entre eles. É preciso estar muito atento e consumir devagar para entender as eventuais diferenças entre eles. Podem ver pelas imagens os 3 locais onde adquiri pastéis, mas não irei aqui desvendar o resultado, ou a escolha do preferido.

 

 

 

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Há, de facto, ligeiras diferenças entre eles. Possivelmente a mais destacada é a massa externa dos pastéis. Em alguns é fica, praticamente, quase a inexistência da massa externa de tal forma é fina e quase é absorvida pelo recheio no qual se nota a variação da quantidade de amêndoa o a forma como foi «moída». Ora são estes pequenos detalhes que ditam a preferência dos consumidores. A capa não deve sobrepor-se ao recheio, não o «abafa». A amêndoa é o último produto que ressalta e deixa o sabor final na boca.

Apesar de alguns insinuarem que estes pastéis serão de origem conventual, não me parece que isso aconteça. Marco Paulo Dias Luís, na sua comunicação “Pastel de feijão, «ex-libris» torriense”, publicou no livro História da Alimentação, Turres Veteras – IX, das Edições Colibri, Câmara Municipal cde Torres Vedras e Instituto              Alexandre Herculano, 2007, um texto sobre a origem e divulgação deste pastel. Do texto lemos que “a fabricação destes pastéis, a informação predominante indica-nos que terá começado nos finais do século XIX”.

 

 

 

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Em 1894 três jornais de Torres Vedras, “Gazeta de Torres Vedras”, “Semana” e “Vinha de Torres Vedras”, noticiam a inauguração do estabelecimento “Havaneza Torreense” que fabrica os “pastéis de feijão”. Depois um curioso e bem detalhado texto do que se supõe ser a primeira receita e como foi inicialmente difundida através da família Rodrigues da Silva. Identificação direta a quem a receita chegou e a forma como em várias casas se começarem a produzir, depois fabricar, os famosos pastéis.

Curioso é poder observar a receita que foi publicada no jornal “Frenteoeste” e que transcrevo:

“- massa: 250g de farinha de trigo, 2 colheres de sopa de manteiga ou de margarina, 1,5dl de água, uma pitada de sal

. recheio: 500g de açúcar pilé, 125g de polme de feijão branco, 125g de miolo de amêndoas, 12 ovos; não leva canela, nem açúcar em pó, como algumas receitas argumentam.”

Também dendo a posição de Artur Pereira, que foi proprietário da marca “Maria Adelaide Rodrigues da Silva”, ao publicar a receita. Mais importante que a receita é o “saber fazer”, saber a consistência das misturas, a finura da massa e o tempo de cozedura, associado ao rigor do forno. Recomendo a leitura integral do texto de Marco Paulo Dias Luís.

 

 

 

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Os Pastéis de Feijão de Torres Vedras aparecem em muitos livros do século XX. No livro A Doçaria Portuguesa Centro, de Cristina Castro, Ficta 2019, escreveu: “No meu entender, os atuais pastéis de feijão, em Portugal, derivam dos pastéis de amêndoa e ovos, provavelmente como forma de substituir ou de reduzir a quantidade de amêndoa utilizada.”  Também Maria de Lourdes Modesto em Cozinha Tradicional Portuguesa, Verbo, 1982 dá a receita. Maria Odete Cortes Valente em Ribatejo, Círculo de Leitores, 1994 dá a receita e atribui a tradição a Torres Vedras.

A atribuição de IGP garante que os pastéis fabricados pelos componentes da associação de produtores seja uma garantia de um produto produzido de acordo com o respetivo manual.

 

 

 

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Para os consumidores, como eu, o importante é descobrir a sua qualidade. Sugiro que façam um roteiro pelos produtores associados e escolham o que se identifica mais com o vosso gosto.

Bom apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

 

 

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